Certa vez, eu estava brincando de Deus, pintando umas paisagens que, segundo imaginava, ainda não haviam sido criadas, quando de repente alguém me disse: “Larga isso, menino!”. E então eu parei de pintar e corri; mas como havia ficado muito impressionado com aquela voz, resolvi escrever um pouco sobre o que havia me ocorrido:

                                                   F A N T O X       

Estou cansado de curtir a vida, de ficar olhando estrelas, de fazer a barba, cortar as unhas, matar baratas, observar pássaros, ouvir seus belos cantos; correr pelo jardim atrás de borboletas, observar insetos... E constatar, com espanto, como são habilidosos; analisando suas percepções tão aguçadas e funcionais, num mundo grego e plano. Por favor, cessem o pêndulo da dualidade. Tudo é a mesma coisa, uma só realidade...

Talvez eu tivesse enlouquecido e não soubesse
ou seria apenas um  apelido Alien Edward Dement?

Algumas pessoas se aproximam, me observam, me cercam, fazem tanto barulho. Riem, me olham com desdém, debocham, procuram de todas as formas me implodir com discursos tendenciosos, discursos exclusivos, direcionados para determinados pontos tensos da realidade, determinadas análises, determinados aspectos... Enquanto eu sei, todo o resto, tudo o que na verdade me interessa, permanece oculto na penumbra, atrás da porta, fora do alcance dos seus holofotes da razão. Depois se afastam... rindo de algo que eu não compreendo, algo de que eu não faço parte.

Talvez eu seja apenas aquele cão que se afasta, tentando  morder o próprio rabo, ou o gato pardo saltando telhados à noite, uma águia, uma galinha, ou apenas um peixe betta fora do aquário.

Noite escura

Tudo é tão estranho, a macaca pelada corria e quebrou o pescoço
Não sei ao certo em que ano estamos
A verdade é que eu sou bem pequeno, talvez 1968 (?) ou maio de 69, não sei...
Isso não importa no momento
A verdade é que eu sou bem pequeno

O velho puxa uma cadeira
e senta-se a la Marlon Brando bem perto de mim
Encosta a barba espinhosa em meu rosto
e aperta o meu pescoço, parece muito nervoso, talvez drogado
envolvido por algum grande mistério, pois range os dentes
e respira com dificuldade, mordendo os lábios
parecendo, por vezes, querer lamber a própria orelha.

Meu coração acelera, fecho os olhos
ouço apenas o estampido de um tiro de 38
seguido de um clarão e cheiro de pólvora.
Não me lembro de mais nada, ou quase...

A macaca pelada corria...
Talvez fosse mesmo o mês de maio, ou agosto
não me lembro se fazia muito frio ou calor.
O certo é que eu era bem pequeno e tímido

Estávamos de férias em Santos, numa casa 
um enorme cômodo com cozinha e banheiro
num lugar cercado de mato
não muito distante da orla marítima.

Certa manhã, Zow e eu brincávamos de abrir pequenas poças na areia
junto à margem de uma pequena lagoa
onde aprisionávamos alguns girinos.
Um pouco mais afastados
dois cavalos abanam o rabo

O velho bebe num boteco sujo, do outro lado da pista
de onde, de vez em quando, nos acena, aguardando um sinal de ok.
Eu respondo sempre que sim, recobrando o fôlego
em meio à fumaça que envolvia o passado.

Era uma vez...margaridas. Cacos. Flores são lindas
e o vaso quebrado. O céu é azul, o vento caindo e os 2 cavalos.

Lembro-me que atravessamos a Ponte Pênsil a 90 por hora num Chevy 53
gritando de alegria no banco de trás
trocando as marchas
movendo para cima e para baixo a alavanca de câmbio
junto à coluna de direção, girando o volante branco
como se estivéssemos num parque de diversão.  
Flores são lindas, e os cachorros latem.
Quase fomos parar  numa delegacia naquela tarde.

Agora é noite. Vejo a luz azul do semáforo.
A lua está lá, entrando e saindo de bicicleta atrás das nuvens
em forma de picolé, ovos estrelados, toalhinhas de renda
e flocos de mandiopã caídos embaixo da mesa.

Zow teme que os girinos se transformem em monstros ferozes,
e venham com a ventania durante a madrugada até a vidraça da casa,
farejar por nós como um T-Rex,
cheirar nossos cus e rosnar:
“Eu sou o Grande Deus da Montanha, seus imbecis!”.

Assim, rapidamente abrimos alguns sulcos no chão
ligando as poças à lagoa
na esperança de que, durante a madrugada,
os girinos pudessem fugir ou correr para o mar.

O velho acena, vermelho de raiva
e nós respondemos com o dedo.
A macaca acelera ainda mais minha vida besta.

Dentro do Bel-Air verde musgo desgovernado,
com o porta-malas cheio de rãs sem cabeça
todos caem numa gargalhada infinita ao lado pista.

O velho acena novamente,
mas nós não estamos mais lá...
E isso é triste

Pequenos pássaros bico-de-lacre,
balançam nas hastes de um capinzal,
saltando em duplas, cantando, como num balé mágico,
de um ramo ao outro,
namorando, colhendo sementes

Saímos de lá.
Que dia chato...

Apenas uma velha mal humorada, com uma verruga no nariz,
cagando atrás de uma moita nos observava
(ou será que se masturbava?)
“Oi, titia Beth! Nós estamos aqui, comendo sementes,
brincando de Deus".

Eu tinha um broche do time do Santos
e um anel de pedrinha azul,
que ganhara com um doce mole e cor-de-rosa.

Coloco a mão esquerda atrás da nuca
e urino entre moscas varejeiras,
de modo que o tempo gira quando eu quero,
quando então ouço passos
que se aproximam perpendicularmente,
e cessam atrás da parede.

Não posso vê-lo, mas sei que ainda está aí
Ouço apenas sua respiração ofegante
sinto seu cheiro de motorista de ambulância
e a fumaça do seu cigarro

...E mais uma noite entra pela janela aberta
na pequena casa rústica da praia,
agitando as cortinas vermelhas, que desgraça (!)
...Que dia horrível aquele, que noite bela

...Se alguém te disser para guardar consigo seus sentimentos
e bloquear seus sentidos, e apenas  adorar a Deus
estará a te dizer o certo. Isso mesmo, estará a dizer uma verdade incontestável
que, oxalá, seja bem compreendida!

Todavia, mesmo assim, temo que te enganes
e entenda mal minhas palavras. Por isso, não te peço que as admire
Mas antes, que se cuide, e que não fiques trancado dentro de si mesmo,

Aliás, também não quero que pules para fora,
ou para cima, para trás, ou de lado de ti mesmo

“Mas, então, onde é que eu devo estar?” - perguntarias
“...Pelo o que diz, em parte nenhuma (?!)”

Falaste bem, pois é isso mesmo o que eu quero!
De fato, em parte nenhuma, do ponto de vista material,
é o mesmo que em toda parte, do ponto de vista espiritual.

Cuida, pois, o tempo todo para que a sua atividade espiritual
não se realize em nenhum lugar material e então, onde quer que esteja
o objeto ao qual resolvas direcionar sua atenção, aí também estará o seu espírito,
tal como o seu corpo, que se encontra no lugar
em que tu próprio resides materialmente.
E embora, nessa situação, teus sentidos corporais
não consigam encontrar alimento,
por lhes parecer que não é nada o que estás a fazer,
continue a fazer isso, esse mesmo nada,
contanto que o faças por amor a Deus.
E não desistas de forma alguma,
mas procura exercitar-te diariamente nesse nada
com um desejo jamais visto de unir-se a Deus

É que em verdade te digo:
Eu antes queria ficar assim, em parte nenhuma
abraçado com tão cego nada, à margem da lagoa em Santos
brincando alegremente com Zow e os girinos
como se fôssemos parte do Universo
melhor do que ser, agora como o velho, e não estar em parte alguma

Deixa então de lado o tudo em toda a parte,
e troque-o pelo nada em parte nenhuma.
Não esquente a cabeça se os seus sentidos
não captarem esse nada do qual te falo,
pois desse modo eu o amo ainda mais.
Pois isso se trata de algo com tanto valor em si mesmo
que os sentidos não são capaz de conhecer.
Tal nada se sente, muito mais do que se vê,
por que é totalmente invisível no escuro
porquanto ainda só poucos o contemplam por um átmo de tempo.

Porém, para ser mais sincero, te digo
se sua alma sentir-se como que cega ao experimentar esse vazio
não se assuste, isso se deve mais à abundância de luz
do que à escuridão ou ausência de coisas materiais.

De resto, quem costuma dizer que isso é nada
são apenas aquelas pessoas (aponta para a velha), e não o seu Eu interior
Esse diz que aquilo é Tudo, pois lhe ensina a compreender todas as coisas
materiais e espirituais, sem que precises considerar nenhuma delas especial.






Desde então, meus dias têm sido um tormento
Minhas noites horríveis
Permaneço até tarde da noite
do lado de fora da casa
chutando de lado alguns besouros
que caem do espaço
vindos da noite escura lá fora

Depois vêm umas corujas simpáticas
e carregam os benditos besouros
De modo que eu estou muito estressado
vendo a fumaça do meu Galaxy
subir como uma hélice de DNA
em direção ao ser do Céu, rumo às estrelas

Tenho ainda, em meu infortúnio
que tirar alguns grãos de areia das reentrâncias brancas
dos meus dedos dos pés
Só que eu não sei
grande Melancolia IRADA Ver o Sol
a Lua, E descascar uma banana
e estar detonado ao seu lado
Pra você ter uma ideia
não sei nem onde Zow colocou o limão
esse perfume de lavanda
as luzes fluorescentes da varanda...

Tirei a bermuda e
quase enfiei a cueca na cabeça
no lugar onde estavam os DuBonet
Estava ventando
e as folhas de uma seringueira
se agitavam, abrindo bocas
no tecido aveludado da noite
E as corujas, como origamis
sobrevoavam a varanda
carregando o alimento
que eu ali lhes lançava com meu chinelo Havaiana

Enormes Besouros Negros (EBN)
e a brisa desmanchando a hélice
Eu sentia ISSO
Eu sentia sono
Eu seria o sono?
Isso significava o quê? Que eu estava acordado?
Tudo aquilo era verdade?
Aquela noite!
A fumaça!
Aqueles dois meninos magros, brincando com o barro na lagoa (?)
Aquele velho afastando-se naquele bote.

A atmosfera está horrível
Pior impossível
Cheira à merda, bosta
ou peido, sei lá
uma horrorosa combinação de odores
misturados a um sutil fedor de peixe podre, areia
e fumaça de cigarro
...ou cachimbo, sei lá...

Assim, passamos as noites em jejum
andando em círculos

Durante as manhãs caminhava
pela beira-mar
acompanhando, à pouca distância
o sobrevoo de algumas gaivotas
na espuma das ondas

Bichinho idiota...
Meu nariz está se deformando automaticamente, lentamente
como um pimentão que se contorce, retrai, murcha
Meus lábios ficam esticados, suspensos
e repuxados para a esquerda

De forma que, com o passar da tarde
e a chegada da brisa noturna, vem a madrugada
conversando com o vento
ouvindo gritos, grilos cortantes invisíveis
Sinto-me assim, transformado num Pato Donald
 o que me irava muito e pensava:
“Quem será dessa vez
o Morcego Vermelho? A correr pela madrugada
com sua velha Lambretta vermelha?”

...Sou mesmo burro demais.

Há que se esclarecer aqui, por ser de tremenda importância, que o processo evolutivo não implica, de modo algum, em uma retirada da vida objetiva, nem significa uma fuga aos problemas existenciais e afetivos. Muito pelo contrário, é a integração da Vida na vida, da Vida no Homem e do Homem no Cosmo. É o despertar da vida em todos os seus aspectos. O Homem que se torna consciente é um adepto do princípio da afirmação, da positividade, da ação, o que se expressa através de um saneamento de nossas formas de relacionamento humano. E isso, meu caro Zow, é vida, e como tal,  manifestação da própria saúde física, psíquica ou, se preferir, espiritual. Assim, brinque sempre na lagoa com os seus girinos, e não se importe com os cavalos, compreende? Esse é o ajuste perfeito e natural do homem e os seus princípios superiores. Podemos, pois, agora, pegar nossas coisas, nossas pazinhas, e finalizar a conversa, definindo esse estado estranho de ser como normal, natural, ao qual adicionamos um novo ingrediente, a espontaneidade. Foda-se o resto!





Módulo 2 Taine Made in Taiwan

O telefone não toca
A campainha do apartamento 1406
nunca toca
Quando os sinos da Basílica do Carmo batem seis ou sete badaladas
consigo reunir forças e levantar-me
como um Frankenstein
do meu leito de morte

Caminho então alguns passos sem pressa,
desviando-me do armário
e vou até o banheiro
Evito olhar-me no espelho
pendurado de propósito com elásticos do escritório
no registro do chuveiro

Lá fora chove
Escovo todos os dias
dois dentes que restaram
para que continuem brancos
até a Eternidade
mijo um jacto escasso
sem ver a  luz que sai do meu pinto
Lavo as mãos
e retorno ao único cômodo contíguo...

Jogo a toalha
faço a cama
tiro os chinelos
como um biscoito Tostines
releio alguns livros da Clarice Lispector
A Paixão Segundo GH
folheio jornais antigos
e tento brincar sozinho
com meu velho Matchbox 
mas não consigo...
Não posso mais assistir Super Cine
Nem posso ouvir Roberto Carlos cantando
"Esta é a última canção que eu faço pra você
já cansei de viver iludido, só pensando em você"
que eu tremo, soluço e choro

Desligo então o rádio e pego os meus óculos, o celular, algumas moedas...

e retorno ao Café Regina

Dentro dos elevadores há enormes espelhos
nas paredes dos fundos
onde as pessoas simpáticas se observam
arrumam o cabelo, a gola da camisa
mas evitam me olhar
Nada perguntam
"Quem sou agora?"
Não sei quem são, respondo...
mas também não lhes devolvo a pergunta, a indignação
oculta na superfície de nitrato de prata e feldspato.

Temo que sejam apenas mais alguns fantoches,
descendo e subindo
pelas paredes do condomínio
Estranha essa relação (!?)

Devo continuar? Por quê?
Por favor, alguém me responda...


No dia seguinte...

Sem citar nomes, porque isso aqui não é exatamente uma crítica pessoal, mas, antes, um tratado em aberto, uma observação existencial minuciosa; algumas pessoas são extremamente ridículas, outras medíocres e, outras, estúpidas, desprovidas de sentimentos, o que, creio, em decorrência de um alto grau de individuação (egocentrismo). Eu mesmo, me considero idiota por demais. Outras pessoas são bizarras, alegres, bobas, tolas e fúteis, porém muito inteligentes. Contudo, não concebo tal "configuração" como uma forma estática ou absoluta, por que entendo que pode variar, ao longo de um dia, em intensidade, ou mesmo transformar-se em seu oposto, tornando-se, assim, todos, cada qual, diferentes, porém iguais, durante uma vida ou mesmo num único dia (A respeito da alternância e deslocamento da polaridade dominante e manifesta, num dado sistema infinito – ou, o que não explica nada, mas apenas lança mais dúvidas sobre o que se desconhece).

Muitas vezes, então, me ocorre, após outra volta do parafuso, que algumas habilidades, características, ou mesmo hábitos, que nos parecem dons ou virtudes, na verdade, são exatamente o que devemos combater, mas que não vemos, pois estamos cegos, presos aos nossos pontos de vista. Sendo esses pretensos dons exatamente o que nos impede de, efetivamente, migrar para uma outra posição, um outro modo de entendimento ou percepção de uma dada realidade. Assim, mantendo-nos idiotamente presos a hábitos e atitudes, que sequer suspeitamos serem obstáculos, não vemos o óbvio, ou seja, o que de fato está a nos limitar. Precisamos, então, romper urgentemente com essas “coisas agradáveis”; precisamos “sofrer” um pouco, para só então descobrirmos o que há além dos limites do nosso ser. Estaria aí a relação entre sofrimento e crescimento espiritual (?); ou seja, “sofrer”, para nós, seria exatamente o que sentimos ao rompimento de uma estrutura psicológica cristalizada - a couraça, segundo Reich (?)  


                                        
                                           O VERSO DA EMBALAGEM

Sempre fui uma pessoa extremamente pacífica e acessível, e até mesmo sociável, ou mais que isso, disponível a qualquer contato humano. No entanto, muita gente sempre me acusou ou procurou qualificar-me como um sujeito hostil e carrancudo, que só escreve merda, que todos temem, e na presença do qual todos se sentem constrangidos. Mas o que eu nunca consegui entender, pensando sobre isso, sobre essa possibilidade horrível, ou seja, de que eu realmente seja uma ratazana autoritária, é constatar, com alegre surpresa, e coelhos nos olhos que até mesmo uma pequena criancinha de colo, ao ser por mim contrariada, nunca hesitou em me mandar rapidamente a Meda ou mostrar-me a língua felpuda, quando não um dos dedos em riste. De modo que, imaginando essas coisas, não consigo mais refletir, nem sentir prazer. É como se tivesse perdido a memória, o ego, a cueca ou, sei lá o que. A personalidade talvez?

O certo é que agora não sei mais como me satisfazer. Se antes me interessava por Coca-Cola ou sexo, comprava umas revistas Penthouse, e logo ejaculava; se gostava de psicologia, comprava uma revistas Rádice; Se gostava de Miuras, colecionava miniaturinhas Jada, Filosofia, Artes plásticas, Literatura...tudo.  Até que tudo perdeu o valor, ou melhor, ainda salivo, sinto o cheiro, desejo, sinto tesão, só que, uma vez tendo adquirido o tal objeto de desejo, seja ele um livro, uma revista, um quadro, uma escultura ou mesmo um pedaço de chocolate, ou uma xícara de café expresso, a sensação desaparece rapidamente, e um profundo vazio invade até mesmo os limites mais distantes do meu corpo, bloqueando a satisfação do desejo; que não flui. Seria algo como sentir dor de barriga e sofrer de prisão de ventre ao mesmo tempo; ou como se na hora de defecar, apenas peidasse com as pernas abertas, olhando com frustração para a cara da psicóloga, na janelinha do hospício.

Ouvir música também se tornou para mim um grande martírio, para não dizer um inferno, sem exagero. Um rock pesado dos Stooges ou do Rammstein me deixa claustrofóbico; uma música sacra ou lenta como uma bossa-nova ou new-age me parece adocicada demais, pura alienação de uma realidade cristalina. Essa, a realidade então, tem me sugerido algo caótico e sem sentido; cubro a cabeça, e antes mesmo de adormecer já começo a ter pesadelos; e, quando consigo dormir, os sonhos me chegam através de imagens esvanecidas, por demais infantis e sem sentido, idiotas. Os alimentos na boca não têm gosto, as tardes estão sempre abafadas, e o Sol não parece tão redondo, o que me faz pensar que isso seja o início da velhice, uma espécie de menopausa masculina talvez. Então eu mato meu tempo escrevendo coisas assim:

FIAT LUX

Eu não controlo a miguelage
Meu ser transborda a todo momento
me perco
a caneta esferográfica
os óculos a dentadura
pendrive
a carteira de identidade
documentos
a arma e as balas
Só não perco a cueca
e a cabeça...

(mas que cara de pau esse Sr. Bommel, heim?)

Escrevo assim mesmo, sem vírgulas, procurando deixar bem claro que as palavras relaxem e se liguem umas as outras como quiserem, como se fossem vagões de um trem de passageiros, ou cargueiro, como preferirem, o que me leva a refletir e imaginar que:

O demônio está sugando todo o conteúdo
do meu pendrive todas as vezes
que acesso a internet;
essa rede dos infernos
Posso acreditar no que quiser
Não tenho o rabo preso
com nada
por isso pretendo me livrar
o mais rápido possível
desse pessoal
desse modo privativo e virtual de vida
que me aprisiona ao Anti-Mundo
e  sair por aí voando
quando então, ninguém mais
poderá me sugar (assim espero)
Detesto ser sugado, julgado e maltratado
Não suporto também que me chamem de babaca...

Hoje cedo, quando saía do escritório em direção a kit, uma vozinha de cabelos azuis e cara de mexerica morgot  me chamou, e disse: “Ei, babaca! Espere aí”

Olhei feio para ela, e fiz-lhe um gesto obsceno
com o dedo médio,  e em seguida saí correndo, tomando o rumo da Dr. Quirino,
sem lhe dar atenção
sem prestar-lhe qualquer auxílio
apenas por que ela havia me chamado de babaca

Tudo, menos isso, babaca
termo jocoso e infeliz...

Me chamem de tudo,
tolo, ingênuo, leigo, tacanho,
macambúzio...do que quiser, mas nunca de babaca
Isso eu não sou
Eu sou, apenas isso
Eu sou...
Não me pareço com nada
Não pertenço a nada,
apenas ao Deus em que eu creio
e que não é o mesmo em que você crê
mas que, certamente, não é outro, é o mesmo
o que nos criou
E não sabemos para quê
Apenas para sermos
Por isso te digo, eu sou
o Sr. Bommel

As nuvens se deslocam em direção a Bragança Paulista, como se Deus estivesse aplicando no céu um efeito que normalmente eu uso em telas do paintbush ou do Corel, chamado Skizz. Inesperadamente um raio corta o céu; tambores tocam atrás das nuvens e as pessoas se desesperam. Carros buzinam. Parece haver alguma interferência eletromagnética no pessoal lá embaixo. Talvez partículas cósmicas estejam provocando isso. Algumas pessoas trabalham muito, o tempo todo. Só sabem trabalhar. Outras não fazem nada, não sabem fazer, ou sofrem de preguiça. Utilizo agora numa pintura um pouco de tons brancos, jogando-os contra um fundo negro, procurando um degradé suave, em direção ao cinza, e, finalmente, fazendo com que as espumas brancas se arrebentem contra uma montanha monolítica em forma de mochila.

Tem dias que eu fico olhando a tarde cinza através da janela do escritório, e chego mesmo a ver sombras ou vultos, que se aproximam silenciosamente, e ficam parados junto à porta, me observando, sem nada dizer. Outro dia, olhando um Ford Escort, modelo antigo, de cor marrom ferroviário que passava devagar pela Regente Feijó, fiquei pensando, como coisas menores, ou singulares, podem às vezes desbloquear coisas grandes, como uma pequena chave que põe a funcionar um potente motor, ou que nos abre um cofre, onde pensamos poder encontrar um tesouro com o qual sonhamos obsessivamente. No entanto, noutras vezes, se permanecemos absortos e paralisados, apenas observando o mundo ao nosso redor, com a chave nas mãos, admirando-a, achando-a magnífica, como se ela fosse o tesouro que gostaríamos de encontrar; às vezes a chave é uma corrente elétrica, com a qual mantemos presa a fera, como as partículas invisíveis que compõem a matéria. Imagino sobre o que aconteceria se jogássemos a chave fora? Se parasse de falar por metáforas, e quebrasse logo a vidraça? O que ocorreria com o tempo? E o frango na panela? Caso não houvesse aquelas bolinhas de gude, ou aquelas bolhas de sabão Corel Draw carregadas de Criaturinhas Metálicas? Muitas vezes me sinto preso a esse tempo e espaço apenas por um fino fio de cabelo branco, ou algo mais tênue que isso. O problema estava em mim esta manhã. O problema está no meu corpo.

Sinto que não sou normal como os meus colegas do escritório (ou do scriptórium, talvez fosse melhor dizer). Olhando atentamente para eles e para outros funcionários do prédio, quando ficamos presos no elevador, e ouvindo seus papinhos de aranha em forma de clichês, sinto vontade de vomitar. Que gente escrota! Fedorentos! Não quero ser assim. Nunca! Jamais! Prefiro ser essa Metamorphosis Ambulants do que ser aquela velha formada em demagogia. As pessoas se apresentam o tempo todo como simples selfs falsos; cascas de uma ferida que já não sangra, não chora; um lugar comum onde já não há vida. A semana passada disse isso a uma psicóloga que trabalha no 5º andar, e ela me disse para comer um pouco de chocolate. Sinceramente - pensei, olhado bem para ela, para aquelas suas perninhas magras de barata, para o tailler formal que ela usava, para os seus sapatinhos vermelhos e os pés inchados; prestei atenção à minha respiração por uns trinta segundos, e depois pensei “Ora, vai se foder!”; mas, educadamente me contive, sem sentir qualquer prazer, e apenas lhe respondi que era alérgico a amendoim, e que a maioria desses chocolates têm, no mínimo, era só ela ler a relação de ingredientes no verso da embalagem, algum traço de amendoim, ao que ele me respondeu: “Garoto não. Você não gosta de Garoto?” Daí eu pensei em sair correndo, mas o elevador ainda se deslocava entre o 5º e o 4º andar como que descendo em uma mina de carvão, e eu apenas olhei desesperado pela pequena janelinha na porta, observando a parede suja e pichada do fosso, que passava lentamente como um filme em branco e preto. Inclusive, escrever esse texto agora, me aborrece profundamente, mas é o que eu preciso fazer para não explodir de vez, ou talvez. Ou quem sabe haja algum terapeuta mais competente no Universo? Um terapeuta que tenha cérebro, alma e um mínimo de criatividade, e pena de mim, ou que me jogue pela janela, e depois se dirija até o lavabo e esfregue as mãos, como fez acertadamente  Poncio Pilatos. Preciso urgentemente fazer alguma terapia, do-in, Yoga, Tai-chi-chuan, pilates, salto ornamental, salto com vara, sei lá o que, qualquer coisa que me dê alegria por alguns minutos, alguma ideologia. Hoje cedo, 40 anos depois que acordei, porque teria sido impossível fazê-lo durante o sono, passando a mão pelo queixo, diante do espelho imóvel no banheiro, examinado meu cavanhaque já meio grisalho como ar de Gremelin, pensei, “É bem possível que eu esteja mesmo envelhecendo com uma sujeira nos olhos“ como sugeria aquele email cheio de logotipos dos anos 60, 70 e 80 que me mandaram na semana passada. Era também óbvio que eu escrevia fazendo uso de um vocabulário limitado, uma comunicação restrita, um circuito fechado de palavras lego, como um jogo do caralho, cartas marcadas, um blefe, truco! Sim, eu era os Meninos Que Peidavam sem parar na Lan em Sumaré, como dois Opalas sem freio fazendo drift pra cima daquelas bostas de Stonage na calçada Meus olhos estão ficando molhados, meu coração palpita, minha respiração se torna insuficiente e eu não consigo não quero não faz sentido ficar assim escrevendo para todo o sempre, amém;



Só queria lhe dizer que não acredito e nem espero que possamos sempre concordar, discorrendo sobre abstrações intelectivas; dado à diferenciação de nossas naturezas físicas e mentais; eu sou eu, você é você; isso é o que mais me fascina; acredito que o cérebro humano seja algo como um receptor de informações, um redutor de conhecimento; deduz apenas uma parcela ínfima do Todo que é a Realidade Funcional; algo mais ou menos parecido com o que fora formulado por Aldous Huxley, em Portas da Percepção; assim, não estamos habilitados a explicar o Todo, mas, apenas, distinguir partes (algumas partes), aspectos; seria também necessário esclarecer que assumo as minhas particularidades, talvez metafísicas (muito embora as abomine); minha mente, muito embora não refute, a certa altura do passeio nessa “montanha-russa”, torna-se contemplativa, e menos racional; minha natureza é preponderantemente emocional; não posso fugir às minhas características inatas (às vezes até as odeio); por isso, aprecio e necessito muito ter acesso ao que, “a sua mente”, dotada de outras características, me possibilite vislumbrar; por isso sempre preferi o campo das Artes para me expressar, e não o das Ciências; fazer o quê? Eu sou isso; não é o que não pode ser que não é; muitas vezes, me expresso melhor por imagens, e metáforas, do que por um raciocínio lógico; não acho que a Realidade seja assim tão lógica (ou teológica). Não à Lógica Humana! Para você ter uma idéia, minhas humildes e particulares concepções acerca do Universo e da condição humana, hoje, aos 52 anos de idade, e depois de ter passado por uma porrada de experiências traumáticas, desde a mais tenra infância, e, ainda, depois de ter tido certo acesso à Cultura, à Civilização, e a uma meia porrada de informações técnicas na área de Psicologia, Filosofia, Ciência & Letras, e Religião, não diferem muito do que eu imaginava e sentia no âmago do meu ser, quando tinha somente 7 ou 8 anos de idade. Amadureci mas ainda sou o mesmo (endureci?); o bife é gostoso, mas não é a vaca; você entende como funciona o V12, mas eu me identifico muito mais com o design da carroceria; acredito, então, que possamos nos “completar”, seria possível haver uma interseção de ideias; mas ideias correm o risco de se transformar em dogmas; já sofri muito por ter exposto alguns pensamentos, algumas ideias, há tempos, em alguns manuscritos da minha primeira idade, e depois alguém, pegando aqueles manuscritos, os esfregou em meu nariz, e me acusou de pensar daquele modo, e eu já nem me lembrava mais daquilo, já nem pensava mais daquela forma; o infinito está no finito; o infinito “avança”, tanto para o macro, como para o “micro”; eu adoro desenhar carros, desde a infância, e nunca parei de fazer isso; e quando o faço (sem saber o porquê), posso perceber (ao sair), que estava num estado meditativo; mas eu não posso ditar isso como regra pra alguém meditar; nada posso afirmar; somos iguais, por que somos todos (igualmente) diferentes; odeio rituais, atitudes mecânicas; aprecio a espontaneidade; não a espontaneidade de um assassino, é claro; acredito, ainda, em Deus; mas não um Deus  que eu imagine, um Deus criado pelos homens, um Deus-Self, um Deus-Moral, mas um Deus-Cosmos (ou extra-Cosmos?) que nos criou; pra quê? (isso não é da minha conta); estamos aparelhados apenas para sobreviver, e explicar, sempre dentro de (in)determinados limites da condição e razão humana; quem fala, não sabe; quem sabe (Deus), se cala; muitas vezes imploro a Deus para que silencie, “serene”, “apazigúe”, a minha mente, porque, só então posso ter acesso a outras informações, ou estados de existência; como te disse, não acredito que somos (o Homem) o “top” da evolução no Universo (talvez até seja); imagino poder existir outra ou outras formas de vida, ou “existências”, não necessariamente como concebemos, porque há muito que não nos é possível conceber; uma vez, quando criança, olhando para uma barata que, de costas, lutando contra a morte, se debatia no chão da cozinha na minha casa, lá no Lausane, eu fiquei pensando “será que ela imagina que eu estou aqui, observando-a? Não? Um ser, posicionado em um ponto “inferior” na escala da evolução das espécies, não tem, digamos assim, consciência, da existência de outros seres, posicionados num ponto “superior” nessa mesma escala; e, se não somos o “topo” nessa escala, como poderíamos então ter “consciência” do que há além? Então eu apenas peguei uma pazinha de lixo e recolhi aquela barata moribunda, antes que meu pai, embriagado, chegasse e me desse um pau para eu parar de ser besta; o tempo passou, e agora estou aqui na quitinete de um cômodo só; meu pai desapareceu; vejo uma barata se rastelando no chão do banheiro; eu te falei, cara, eu não sou um cientista; pretendo apenas ser um escritor do Interior do Estado de São Paulo; um punk eclético, que não tem religião; que (per)segue a própria sombra; que adora entrar em catedrais e ali meditar, manter um contato com o Vazio; mas que acredita que não é necessário entrar exatamente ali na catedral, por que o Vazio está em toda parte, dentro e fora de tudo; talvez fosse melhor ser um gato, um pássaro, ou o mato, e não um humano-pensante; seria então mais divertido e sereno viver, mais equilibrado; sofreria menos; viveria mais;




                                          HOSPITAL – QUARTO 1406

Minha cabeça pega fogo. Sonhei com você, e acordei mijado. Sinto cheiro de café, misturado ao de algum perfume barato e fumaça de cigarro, que parece entrar pela janela escancarada do 14º andar. As paredes da quitinete são excessivamente brancas; eu as evito tocar para que não sujem; reza o contrato de locação que eu não posso fixar nelas nenhum prego; feri-las; meus pensamentos parecem agora propagar o fogo por todo o ambiente; pessoas simpáticas, mudas, cegas, sobem e descem o tempo todo pelos quatro elevadores do prédio; ouço apenas o barulho do vai e vem, dos cabos de aço, das engrenagens rangendo e das Portas de Aço batendo; vivo agora numa câmara fria de tortura; sinto-me como se estivesse numa prisão, ou internado num minúsculo hospital público; onde não há médicos, enfermeiras, nem outros pacientes, doentes como eu, nem remédio, nem baratas morrendo, nem pernas, nem muletas, nem nada; apenas sofrimento e rosas no vaso sobre a mesa; apenas as paredes brancas e a brisa que penetra pela janela do banheiro; todo ruído urbano e vozes de veículos nas ruas lá embaixo não me atinge, não me diz respeito; não me impede de lembrar; de alimentar o fogo, que, aos poucos, consome minha alma; retorno à janela. As estrelas estão lá... piscando; na verdade, não estão piscando... Apenas estão lá (?) Nós é que vivemos, num “piscar” do tempo; Deus não é algo em que se pense ou se acredite; apenas se vive; é preciso acabar com toda verbalização, todo pensar, todo pseudo-conhecimento enjaulado; que conhecimento é esse que há no homem que se extingue?  No alto do Edifício Itaguaçu, da janela do meu bunker, observando os pássaros, sinto-me como um Hitler dos textos; você, que é tão feliz, fale-me mais sobre o sofrimento humano; cruspt!

Onde jaz uma carcaça, aves de rapina voam em círculo, e descem. A vida e a morte são duas coisas. Os vivos atacam os mortos; em proveito próprio. Os mortos nada perdem com isso; ganham até, desaparecendo. Ou parecem ganhar; se é que devemos pensar em termos de perda e ganho. Será que abordamos o estudo do Zen com a idéia de que existe algo a ganhar nisso?
Essa pergunta não pretende ser uma acusação explícita. É, no entanto, uma pergunta séria. Onde se faz um espetáculo em torno de “espiritualidade”, “iluminação”, ou simplesmente de “ligar”, isso muitas vezes acontece, porque abutres estão esvoaçando ao redor de um cadáver. Esse voltear, esse vôo em círculo, esse descer, essa celebração de uma vitória não é o que significa o estudo do Zen – embora possa ser um exercício altamente útil noutros contextos. E enriquece as aves de rapina.

O Zen a ninguém enriquece. Não há ninguém para ser encontrado. As aves podem vir e esvoaçar em círculo por algum tempo, no lugar onde se acredita estar o Zen. Mas, bem depressa, deslocar-se-ão para outras paragens. Então, quando já se foram, o “nada”, o “ninguém” que ali estava, de repente aparece. Isto é o Zen. Ali estava o tempo todo, mas os abutres não o viram, pois não era esse seu tipo de presa.

...Na verdade, olhando para os livros na estante, relendo o que escrevo, refletindo a respeito do eco que o meu discurso diário causa na minha cabeça, e ciente das minhas atitudes cotidianas, penso mesmo que eu seja um tanto quanto hipócrita, como todos. E me pergunto: quem não o seria? Ou, quem, dentre esses mortais, seria menos hipócrita do que eu? Quem seria mais astuto e idiota do que eu, dentre esses mortais?

Last night

I took a walk into the back of my mind
through the trash and the warning signs
there was a party full of jokes and clich's
I couldn't think of anything to say
and so I slipped into the men's room there
I saw my hair a way it's never been before

I took the stairs from my head to my heart
I didn't know they were so far apart
the heart is like a little chapel somewhere,
the pretty lights and the empty chairs
but I'm gonna bring a broom next time
I'll sweep out all the broken strings I find

She walks me down to my private train
and lays me down in my sleeping car
she keeps my elephant out of the rain
and sees to the care of my vintage cars
she is the blood of my life
without her I would starve

Who you gonna run to?
Who you gonna hide behind?
Who you gonna turn to
when there's nobody home but you?

What's a father to do
with all theses school-less injuns
running in circles around the wagons
What's a father to do
with all these monster debts
around my neck
on a sad sun deck
Oh, my children, the times are jaded
the simple life is complicated
oh, my children

Now if the dark of the night
arrives in the middle of the day
I'm gonna say my prayer
for sweetness and light,
gonna fix myself a Coke,
and hope it's alright

If the bat-winged beast sweep down
for a feast on me
I'm gonna pin my soul
to a hot-air balloon
gonna make it pop
and shoot me to the moon

Now you've had another piece of my mind,
a cup of coffee and a slice of time
if you'll excuse me I should say goodbye
I gotta go now.





Buda deitou-se entre duas árvores de troncos esbranquiçados. Lua cheia. Noite na mata estranhamente silenciosa. Ananda, seu atendente de tantos anos, lamentava-se pela despedida a seu mestre. Ananda não estava só. Um grande número de discípulos, discípulas, monásticos e laicos cercavam seu leito de folhas. Dizem que até mesmo animais, feras, e pequenos bichinhos, todos vieram se despedir de Buda em seus momentos finais.

Sereno, fez seu ultimo ensinamento. Estava quase entrando em Parinirvana. Não dizemos que um Buda morre.  Budas entram em Parinirvana.  Adentram a grande tranquilidade. Segundo pesquisadores japoneses, comparando calendários, cenários, datas, chegaram a conclusão que teria sido no dia 15 de fevereiro cerca de dois mil e seiscentos anos atrás, quando Xaquiamuni Buda entrou em Parinirvana, em Kushinagara, ao norte da Índia. Cito abaixo alguns trechos das palavras de despedida de Buda.

A mente desonesta é incompatível com o Caminho.  Por essa razão devem cultivar a honestidade. A pessoa de muitos desejos, que procura grandiosidade apenas para si mesma, sofre muito. Uma pessoa de poucos desejos não manipula a mente dos outros através da desonestidade. A mente de quem tem poucos desejos é tranquila e sem preocupações. Para se libertar de todo o sofrimento é preciso conhecer o contentamento.  O
contentamento é a condição da prosperidade e do bem estar. Sintam prazer na quietude e na tranquilidade. As pessoas ávidas por companhias sofrem dificuldades por excesso de companhia, assim como uma árvore corre o risco de murchar se muitos pássaros viverem nela.

Mantenham o esforço correto, a diligência, assim como o constante gotejar da água fura uma rocha. Não percam a atenção correta ao procurar por um mestre ou um amigo.  Se perderem a atenção correta, as paixões poderão entrar e perderão todos os méritos.

A mente devem estar concentrada, capaz de compreender o surgir e o desaparecer de todas
as coisas deste mundo. Se tiverem sabedoria não terão ganância.  Se possuírem o brilho da sabedoria poderão ver claramente, com os seus próprios olhos.

Se quiserem obter a bênção de Nirvana (paz), devem extinguir o mal de falar à toa.  Não
se engajem de forma leviana em conversas inúteis.

Este é o ensinamento final. Não se lamentem. Não existe encontro sem despedida.
Façam da Verdade o seu mestre e eu viverei para sempre.
Hoje, ao celebrar o Parinirvana de Buda deixo a vocês as seguintes questões:
Se você soubesse que ira morrer em algumas horas, estivesse em plena lucidez e cercada  de seus filhos, netos, amigos, alunos, discípulos, parentes, pessoas amadas, colaboradores, o que diria a eles? Qual é o seu ensinamento final? Qual a mensagem de sua vida?
Reflita em si mesmo.




                              O MISTÉRIO DOS CHAMPIONS DOURADOS

No último domingo Lia o seu horóscopo na Folha de São Paulo dizia que você encontraria uma pessoa muito bacana de Leão. O meu, por outro lado, dizia que alguma coisa interessante aconteceria na minha vida por esses dias, mas que eu deveria tomar muito cuidado para não pirar de vez. Não sei se as coisas têm dado muito certo com você. Não sei se a pessoa que você conheceu seja realmente assim tão legal. Eu, da minha parte, posso te dizer que há quase quinze dias estou completamente doido, tentando encontrar objetos, tampas, camisetas, meias, papéis, documentos, escovas, carregador, Miojos Lamen e outras quinquilharias ou fragmentos esparramados pela casa, a fim de juntar tudo, como num imenso quebra-cabeça, e conseguir de uma vez por todas me tornar um velhinho tranqüilo e sossegado.

A cada dia que passava, porém, a faxineira que varria as escadas com uma vassoura de pêlo parecia cada vez mais triste e compenetrada em seu mister. Não que eu fosse muito diferente, ou que fosse mais sóbrio do que ela poderia imaginar.

A verdade é que apreendera a falar corretamente a palavra edredom somente aos 15 anos de idade. Aos 16 não queria mais tomar banho e nem ir à missa com o tio Arthur, usando aquelas camisas velhas de flanela  com mangas compridas e, ainda por cima, ter que usar aqueles suspensórios retorcidos que pareciam estilingues.

A vida é mesmo uma coisa muito louca e misteriosa. Num dia você toma seu chá com torradas normalmente, assiste a novela das 8, põe os chinelos ao lado da cama, confere o bilhete da Loteria Federal que não deu, abre a janela, cospe lá fora, e depois pula na cama para dormir, usando seu pijama de listras preferido, achando que está tudo certo. Porém, no dia seguinte, acorda com um furúnculo daquele tamanho no meio da bunda. Num dia você acha a vida tão horrível e babaca, olha para aquelas bocas-de-lobo trancadas, a padaria fechada, os mendigos deitados lado a lado no chão, dormindo sobre papelões manchados de urina e vômito em frente à basílica, e acha que está tudo perdido... Aí, de repente, do nada, do pó, alguém te liga dos US como se fosse algum Cosmic Guy tragando cigarros Free. Então você olha de novo para aquelas bocas-de-lobo, e delas saem rosas vermelhas e raios de luz prateada, que te questionam, e se congelam no asfalto.

Acordei em meio a um sonho que se realizava atrás da cortina de ferro, e ateie fogo com meus versos cavalos numa vela do tamanho de um bonde, iluminando assim meu lado B, que desceu correndo as escadas do condomínio, como uma vaca desesperada, e foi até lá embaixo na rua ver o que estava acontecendo.
  
Podia ainda sentir o odor suave do seu perfume evaporando entre os meus dedos no teclado enquanto digitava.

Navegar (na Internet) era preciso, viver não é preciso (no sentido de imprecisão).

Icem as velas! Kss kss kss

Comecei então a falar, a tagarelar diferente, como um escritor dual. Cessem os pêndulos! Cessem os pêndulos! Era como se houvesse um zumbido supersônico a controlar minha mente vazia, já tão áspera de tanto rezar madrugada a dentro. Mais tarde descobri que o ruído era apenas a faxineira passando o aspirador de pó nas áreas comuns do condomínio, junto às janelas. Ainda bem, graças a Deus, reencontrei meu lado B atrás do armário que ela limpava. Ele é bom. Ele é o bem mais sensível e perecível que eu possuo, ele peca pra burro, bjsewa, mandou beijos? Você é um Anjo, só preciso te ajudar a trocar o pneu do seu Clio. Fiquei muito impressionado com a elasticidade do seu sutiã. Viu a elegância do meu bigode? Mas foi só isso. De resto, fedia muito, verdade. Mas foi melhor assim, do que uma mentirinha de nada, perfumada, atirada no ventilador da pastelaria.

A essa altura, a máquina não pensa, a máquina tritura, a massa, alguém que não pensa. Alguém que colhe pães, alguém que salta do elevador no 5º andar, e diz: “Fecha a matraca, seu Fonseca!”. Mas, saibam todos aqui presentes, isso aqui não é algo do tipo “O Cantinho da Fofoca”, ou coisa parecida. É mais um Tratado de Tordesilhas, entre ricos e pobres, psicoses, cegos e surdos, marginalizados e embutidos, filhinhos da mamãe, e filhinhos do papai também, pode entrar. Apenas eu não sei onde eu me encaixo, só sei que não sou a Vovó Mafalda e muito menos o Palhaço Bozo. Assim, pontualmente às 19h00, desesperadamente chego ao terminal de ônibus urbanos e entro em qualquer fila, apenas para dar alguns passos em direção ao desconhecido. Por isso, odeio que me sigam, da mesma forma que não estou a seguir ninguém. E foi assim que, um dia, sem querer, cheguei aqui e agora, num ônibus imundo, fretado por Adolf Hitler, observando a paisagem passar pela janela, dirijo-me ao Jardim Santa Fé, na periferia de Hortolândia, lá onde morava a filha da minha nora.

Até então, eu era uma incógnita, uma pessoa nojenta, retraída, que se achava diferente de tudo o que você já havia pensado antes. Até que enfim você me reencontrou nessa situação tão down e me sacudiu de ponta cabeça, e em seguida me deletou para sempre da sua CPU e da sua vida, e isso me fez viver para toda a Eternidade como uma sombra descabelada de mim mesmo. Eu e o meu pobre pendrive, caminhando pelas ruas do Centro, sem ter aonde ir, e sem querer voltar.

Abro a janela no 14º andar e vejo na Francisco Glicério uma turba escoando como uma gigantesca massa disforme, uma Naja Gigante criando vida a partir dos meus olhos, dos meus sentimentos, aninhando-se em meu peito.

Mas sei que na verdade não é nada disso, nem daquilo. São apenas pessoas encapsuladas que passam. Não é isso? Pessoas de Sagitário, de Câncer e Escorpião, ou simples sapos famintos do que é vida, atrás de comida barata, enquanto eu, nem ligo, e me perco, abrindo e fechando as pálpebras. 

Algumas pessoas parecem eficazmente preocupadas com o fato de que, neste exato momento, eu não esteja fazendo nada, e, mesmo assim, me sinta feliz, tomando água do meu próprio coco com soda. Hoje, na verdade, não tive nem tempo de fazer xixi. Mas essas pessoas do tipo “B” insistem em dizer que eu sou louco, mas louco é quem me diz, e não é feliz. Não é feliz.

Assim, pela primeira vez em anos, eu me vi nu, e descobri que sou uma espécie de Blade Runner às avessas, um Caçador de Humanos.  E você é uma criaturinha humana e muito amável, quase do tamanho de um Grilo Falante que canta em meus devaneios ao som de um piano, tomamos um café Regina e um refrigerante da mesma realidade que se afasta surgiu na mesa. Precisava falar com você sobre a gente esta noite, together, mas é sempre muito complicado. Havia uma festa lá fora, e as rosas de Portugal na janela... As pessoas gritavam como índios Apaches. Eu sou muito quieto, e não quero mais saber dessa vida postiça, depois de ter subido na balança. Senti vontade de gritar como um canibal, mas a garganta estava fechada, e eu quase te entupi de tanto falar em Guarani, Obrigado, Presença de Espírito. Sei o quanto querem me controlar. Até o mais ignóbil dos insetos deseja me controlar a todo custo, e o seu semelhante, menos eu, por favor. Um a menos, noves fora, nada!

Pare de me chamar assim de “galera”. Eu odeio isso, eu odeio gírias. Acho o Ó do Boró Godó. Isso me deixa muito puto e irado, ligado em 220. Não sou nenhum Baba Ovo da Nova Era, vivendo (passando batido) entre fariseus, num pseudo-Estado, onde tudo parece lucro e cada vez mais artificial e teatral, e consumível (ou descartável). Faz muito frio lá fora agora na Silent Night.

Muito embora eu já tenha percebido que nada é o que o que aparenta ser, também não sou idiota o suficiente a ponto de desconsiderar a estreita relação que há entre a essência e a aparência das coisas, pois sei que nessa fase da vida, na maioria dos casos, cessando a essência, não permanece a aparência.

Eu mesmo já fui um desses, andando pelas ruas do Centro, cruzando o Viaduto do Chá, novamente topei com aquelas duas velhinhas com cara de mamão macho, feias de doer, e que usavam sandálias de couro tipo rasteirinhas e roupas em estilo indiano. Eu as havia visto naquele mesmo dia, ainda pela manhã. Não sei quem são. Não sei o que significa tudo isso. Tenho me especializado nessa divertida e não menos árdua tarefa de observar a realidade, pessoas, carros, animais e tudo o mais que possa existir, ainda que de forma precária ou incompleta. Eu já nasci sabendo que a maior parte do que observo escapa ao meu raciocínio, lógico, quando então procuro discorrer sobre tais percepções de, como se fosse um observador de ventos, e quisesse assim recolhê-los em minha caixinha craniana. O bicho tá atrás do armário. Ele tá querendo pegar nós.

Dessa forma, não me resta muito a fazer, a não ser continuar aqui com essas histórias sem pé nem cabeça, pois o pior tipo de ignorância é ficar imaginando que se sabe, enquanto, do lado de fora, tudo se transforma, a todo instante, numa velocidade espantosa, enquanto que eu.

Sou mesmo um lerdo. Às vezes quando me movimento com a minha Mobylette espirro. Vivo com a cabeça principal na Lua dos anos 50. Ultimamente tenho me distraído ouvindo Bob Dylan, principalmente Idiot Wind, que é bem a minha cara, e Lay Lady Lay ou You are a Big Girl Now, repetidamente. Ontem fiquei até tarde da noite sentado no chão, tomando chá com amendoim, olhando para a televisão, assistindo um filme do Elvis Presley. Amanhã eu tenho que ir com meus amigos do escritório tomar vacina contra a gripe suína.

Tenho procurado desesperadamente meus semelhantes nesse submundo cruel. Na semana passada, acidentalmente, comprei um tênis brilhante, tipo tênis de enfermeira mesmo, com faixas fluorescentes na lateral e atrás, o que me deixou com um ar de funcionário da Autoban Então eu fiquei ridículo. Ouço vozes que vêm de um cemitério não muito distante daqui e os latidos de um cachorrinho, que reverbera no fosso central do condomínio.

Comer diabos? Eu nunca fui um desses. Algumas pessoas medíocres não conseguem ver nada, nem ser amadas, porque, de fato, não amam, e, dessa forma, como pobres diabos que são, se divertem a valer, tentando impingir algum desconforto aos seus dessemelhantes, talvez imaginando que, assim, tudo possa ser nivelado por baixo, mas nunca entrar em harmonia ou em equilíbrio com a High Frequency. 

Eu mesmo já fui um desses, mas minha natureza foi alterada. Deseja salvar as alterações agora? Não, obrigado. O cara é um chato de carteirinha e galocha. A mina, um pé no saco, e isso me faz mal. Sinto saudades do tempo da dona Vilma, minha professorinha do 1º ano C com cara de bolinho e que sempre usava um vestido preto estilo tubinho, e que me ensinou, além  do B-A-Bá, a contar até 15 (hoje, minha maior virtude).

A maioria das pessoas não se toca. Eu mesmo não me toco. Não desejo de forma alguma me transformar da noite para o dia num sapo ou em  mais um hipócrita de plantão. Isso não. Por isso me esforço tanto, para que, ao menos comigo, as coisas saiam diferentes. Tais tipos “A” se comportam como se as demais pessoas lesmas existissem apenas em função deles. Vivem dando ordens, determinando o que você tem que fazer, a que horas, como, quando, por quanto tempo, e ainda, o que terá que fazer depois que fizer tudo o que disseram. Outros, que eu chamo de tipos “C”, são mais babacas ainda. Caso você não saia da frente, são capazes de te atropelar, passam por cima, e nem te notam. Puxam o fio da sua CPU na cada dura, fazendo com que você perca todos os seus arquivos, e nem se dão conta da cagada que fizeram. Só dizem “limpe”. Mas, os piores são mesmo os do tipo “A”, aqueles que exercem algum poder na Esfera Central. Na maioria das vezes, são pessoas educadas, elegantes, finas, asseadas, porém, extremamente babacas, que, tendo consciência da própria mediocridade, e não tendo como mudar sua natureza, pois, não se é o que não pode ser que não é. O quê? Disfarçam o tempo todo, e se locupletam mandando os outros se fodeire, enquanto eles próprios poupam os seus cus.

Muitos desses exemplares mortíferos se dedicam com afinco por anos a fio em adquirir informações especializadas, decoram artigos, nomes, tabelas, parágrafos, vírgulas, epístolas, versículos, datas, capitais, fórmulas, teoremas, teorias, regras, esquemas, esquizofonemas... Enfim, tudo o que forem capaz de armazenar em suas caixolas herméticas, para, no momento exato, abrir a boca e soltar a língua como um extrato bancário, e exibi-la às pessoas do tipo “X”. Eu, porém, nunca fui um deles. Por isso, nem me importo que me mostrem a língua. O que eu quero mesmo é que tudo se exploda o quanto antes, e tchau, dona Leda! Até mais ver.

Agora estou ouvindo barulho de helicóptero lá fora. Saio à janela e aperto o botão “T” e desapareço. No interior da agência bancária duas crianças com cara de manequim, sentadas no chão em posição de lótus, faziam yoga (ou seriam mesmo manequins?). Saco 20 reais e vou até o Bobs comer uma tortinha de banana com canela. Agora estou me comportando como um cachorro Minha vida parece um filme trash. Estou sempre atrasado, onde quer que eu esteja, sempre correndo de um lado ao outro, e aonde quer que eu vá, estou sempre atrasado. Talvez eu até já tenha nascido atrasado, ou talvez seja uma questão de fuso-horário. Não sei a que vim, nem para aonde estou indo, só sei que estou sempre com pressa, porque aqui só tem gente escrota. Fui fazer a barba e quebrei o aparelho, depois o espelho. Melhor assim, agora penteio os cabelos que restaram olhando-me no espelho dos elevadores. Aperto o botão “T” de térreo, e desço, atravesso o saguão do condomínio, observo as jibóias em vasos suspensos no teto, cumprimento o seu Joaquim, que está sempre com uma blusa de lã verde, debruçado sobre o balcão de mármore, lendo o Estadão. Será que ele entende? Eu não entendo nada.

Dirijo-me ao Largo do Rosário a fim de comprar uma vassoura de pêlo nova. Minha vida tem sido um tédio sem remédio. No escuro, bordando panos de prato com fios de lã degradê não consigo encontrar o tal Ponto G de galinha, enquanto a imagem da TV digital ri como um papagaio. Não posso levá-la para a quitinete para jantar esta noite, porque, nesse caso, você entraria de vez pela escotilha, e poderia descobrir que eu sou um psicopata, e eu descobriria que você é uma psicogalinha. E também porque assim correria o risco de você afanar o meu mustanguinho Cor di Sang estacionado na estante. Veja só aí embaixo a poesia que há dias eu estou tentando fazer pra te dar. Enquanto escrevo, eu masco meu chiclete verde de verdade e sabor hortelã...

O tempo está lá longe
brincando com as estrelas invisíveis
Enquanto eu permaneço aqui, triste
sentindo frio, pensando em você
Sufocando os sonhos
Pensando em tudo o que vivemos
E que não foi vida
Dizendo para mim mesmo "Está tudo ok!"
que eu não te perdi
Só que eu não acredito
E parto pelas ruas desertas
Dobrando esquinas
Observando com nostalgia a neblina
Amarrando o cadarço do velho AllStar
O movimento das pessoas no interior das casas
A alternância de sombras coloridas
e imagens dos aparelhos de TV nas paredes
Sintonizando o Canal F e às vezes a TVB
Através das janelas
Ouvindo cigarras cantando
Ouvindo a algazarra dos pimpolhos lá dentro
pulando no sofá
Alimentando os pombos
Comendo pipoca...

Sinto um cheirinho horrível de bife acebolado no ar
Lares, isso são lares...
O tempo está lá longe, brincando com as estrelas invisíveis

Olhos verdes de gatinho
brilhando no escuro
Num terreno baldio do outro lado da porta
Num canto esquecido do quarto
Batidas soul de um coração que já não samba
Não fareja

Enquanto lá fora
O tempo está  bombando
E a Dona leda contando estrelas 

Mas você nunca chega
Você nunca está ao meu lado...        

Por quê?!?
Droga!

Viu? ...Já não consigo nem escrever como antes...